terça-feira, 17 de setembro de 2013

Que tese de doutorado é esta?


No dia 12 de dezembro de 2012 recebi a notícia de que, junto com mais 13 colegas, faria parte da turma de Doutorado em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O alívio que senti por ter sido aprovado no processo seletivo durou apenas o tempo necessário para que eu me desse conta de que meu ingresso no Doutorado estava condicionado à defesa de minha dissertação agora deveria ocorrer dentro de, no máximo, três meses.

 Em minha Dissertação de Mestrado tive como tema de pesquisa as transformações das relações de trabalho no mundo urbano contemporâneo, sendo o objeto de pesquisa a memória coletiva da profissão de barbeiro na cidade de Porto Alegre. Esta memória ganhava sentido e era expressada a partir de narrativas dos barbeiros e barbeiras sobre sua trajetória de trabalho, sobre o aprendizado dos saberes e fazeres de seu ofício/profissão e sobre sua relação de pertencimento a um local de trabalho e à paisagem urbana. A dissertação tratava de um ofício urbano tradicional no qual a marca da tradição é justamente a inovação. Isto é, o ofício de barbeiro está em constante transformação em seu devir no tempo.

A cidade contemporânea ocupa um lugar de suma relevância nas reflexões sobre as modificações no ofício de barbeiro, uma vez que o processo de profissionalização e modernização de um ofício tradicional como o de barbeiro está relacionado à dinâmica das transformações urbanas da cidade de Porto Alegre nos termos de sua industrialização, urbanização e regulamentação dos usos de seus espaços e das relações de trabalho que ocorrem no mundo urbano. O período do curso de mestrado durou dois anos (2010 a 2012). A pesquisa etnográfica que realizei na cidade de Porto Alegre muitas vezes se confundiu com a trajetória de minha chegada, acomodação e adaptação à cidade de Porto Alegre e seu peculiar estilo de vida. Porém, com a aprovação no doutorado e agora dispondo de mais tempo para realizar uma pesquisa etnográfica, decidi voltar às raízes da minha atividade acadêmica na Antropologia.

Formado em Ciência Sociais pela Universidade Federal do Pará, meus primeiros ensaios etnográficos versaram sobre a percepção de antigos taxistas a respeito das transformações da cidade de Belém ao longo do século XX. A vontade de pesquisa novamente na cidade de Belém somou-se à responsabilidade de produzir conhecimento sobre minha região, a Amazônia. Sendo assim, escrevi um projeto de doutoramento que pudesse contemplar ao mesmo tempo a minha filiação teórica à comunidade interpretativa da Antropologia Urbana no Brasil ao Banco de Efeitos e Imagens Visuais (BIEV-UFRGS) que coordena pesquisas antropológicas sobre memória coletiva, meio ambiente, cotidiano, formas de sociabilidades, itinerários urbanos, narrativas e estética urbana em sociedades complexas. O resultado foi o projeto de tese intitulado: "Entre a poluição da natureza e a naturalização da sujeira. Estudo antropológico sobre a memória ambiental dos habitantes da Bacia Hidrográfica urbana do Una em Belém (PA)".

 Sem mais, disponho a seguir o resumo original presente no projeto entregue ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS-UFRGS).


 RESUMO 

 "Este projeto de pesquisa propõe uma reflexão a respeito da memória ambiental de habitantes da Bacia do Una em Belém do Pará, enfocando a relação entre a cidade e suas águas a partir da trajetória de sujeitos que se estabeleceram em terrenos baixos e alagáveis em função das chuvas e marés altas. Valoriza-se o ponto de vista desses sujeitos sobre as transformações de sua relação com um ambiente marcado pela presença das águas, sendo que suas trajetórias de migração e fixação no território estão ligadas aos processos de ocupação do solo e urbanização de Belém principalmente no que diz respeito ao manejo dos recursos hídricos urbanos e saneamento da cidade. Além disso, este trabalho se dedica à análise das margens dos canais enquanto “lugares praticados” (De Certeau, 1994) no que tange às formas de sociabilidade desenvolvidas nas marginais e às táticas e estratégias utilizadas nas situações de catástrofe urbana como as constantes inundações que ocasionam perda do patrimônio familiar e o risco do contato com lixo e doenças. A experiência contínua de proximidade com estas paisagens fluviais agonizantes introduz no cotidiano dos habitantes da Bacia do Una uma dialética entre a poluição da natureza e a naturalização da sujeira. Poluição da natureza em virtude da transformação dos antigos córregos e igarapés da cidade em corpos drenantes que assumem a forma de canais onde são despejados esgotos e lixo. Naturalização da sujeira em função da duração de práticas e eventos que evocam na memória dos habitantes a presença do antigo rio, riacho ou igarapé, tal como as enchentes, o aparecimento de animais silvestres, o ato de banhar-se e mesmo a sociabilidade e lazer à beira do canal."

"Palavras-chave: Memória Ambiental; Águas Urbanas; Risco."


                                Foto por Odilson Sá

Um comentário:

  1. Fiquei emocionada ao ler o que você escreveu! Que maravilha, Pedro Paulo! Parabéns! Um grande e apertado abraço em você! Agora sou professora do Curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda e tenho a cada dia aprendido muito.rs
    Vou adorar ler o seu blog e acompanhar o desenvolvimento da sua tese. Me aguarde! Beijo!

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