quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Dos objetivos deste Blog...

Este Blog foi criado com a intenção primeira de registrar o processo de construção de conhecimento que irá resultar, dentro de mais ou menos 2 anos (assim eu espero, rs), em uma tese de doutorado a ser defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Registrar o processo de pesquisa significa não apenas dispor online o material coletado em campo, mas tornar inteligíveis os bastidores e as condições da pesquisa, transformando a experiência do etnógrafo em campo em objeto de reflexão e em parte inextricável da escrita etnográfica. Aos amigos que não estão familiarizados com o termo "etnografia", este se trata de um do principal método da Antropologia, ciência social que trata dos fenômenos culturais enquanto constructos coletivos e históricos a partir dos quais o elemento humano se constitui como um ser simbólico. 

Embora o trabalho de campo seja uma das condições primordiais da etnografia, a etnografia não se confunde com trabalho de campo. Meus amigos publicitários, engenheiros, psicólogos, arquitetos, todos estes fizeram trabalho de campo que resultou em ótimos trabalhos de pesquisa. Porém, não realizaram etnografias. Para os antropólogos, a etnografia é mais que um trabalho in loco que resulta em discurso unívoco sobre o outro. A etnografia seria uma narrativa do processo de pesquisa dentro do qual ocorre um deslocamento epistemológico por parte do etnógrafo, isto é: o pesquisador deve refletir sobre como a relação com uma alteridade (o outro que está sendo pesquisado) incidiu na própria produção do conhecimento que dá origem à etnografia.

Para quem tiver interesse sobre este tema, indico o texto da a Antropóloga Mariza Peirano disponível abaixo:


Este blog é um suporte para a pesquisa etnográfica. A idéia de utilizar diferentes suportes para a pesquisa etnográfica não é nova. De fato, ela vai desde as iniciativas dos antropólogos Margareth Mead e Gregory Bateson, que nos anos 1930 usaram registros de áudio e vídeo como dados inequívocos que permitiam comparar o mesmo fenômeno em diferentes culturas (tal como o hábito das mães darem banho em seus bebês) chegando à Antropologia compartilhada do mestre Jean Rouch da década de 50, o qual considerava a imagem cinematográfica como um instrumento de diálogo e de retribuição a interlocutores que não teriam acesso à produção antropológica cujo suporte fosse a escrita.

Prancha do livro Growth and Culture (1951) de Margareth Mead e Frances MacGregor.
Fonte:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832010000200014 


A idéia da criação de um blog para divulgar resultados e fomentar o diálogo com os interlocutores da pesquisa também já foi posta em prática pelo Projeto de Pesquisa “Habitantes do Arroio: memória ambiental das águas urbanas”, coordenado pela antropóloga Ana Luiza Carvalho da Rocha e responsável por uma série de pesquisas sobre conflitos relacionados à utilização dos recursos hídricos urbanos de Porto Alegre. Abaixo, encontra-se o link para o blog do referido projeto:

A Antropologia Compartilhada de Jean Rouch
Fonte: http://www.cinetrange.com/2012/10/jean-rouch/

Além de minha pesquisa de doutorado representar um desdobramento do projeto "Habitantes do Arroio", também partilho da necessidade de estabelecer um canal de diálogo com meus interlocutores, onde estes possam se reconhecer como colaboradores desta pesquisa comentando, fazendo sugestões e, até mesmo, repreendendo o antropólogo quando este não for feliz em seus posts. O blog também divulga o trabalho de pesquisa e atrai outras pessoas que queiram dialogar comigo em qualquer ordem.

O blog também tem o compromisso político de trazer à superfície as problemáticas atuais da Bacia do Una, tais como os alagamentos, conflitos ligados à regularização fundiária de áreas na bacia, colapso do sistema de saneamento, omissões e improbidades da administração pública em relação à manutenção das obras de Macrodrenagem da Bacia do Una agrupadas em três grandes sistemas: viário, macrodrenagem (17 canais, 6 galerias e 2 comportas) e saneamento, bem como visibilizar as condições de vida de grupos de sujeitos que se encontram às margens da ação do Estado dentro da Bacia do Una.

A contrapartida de criar um blog também deve ser considerada diante da possibilidade de este servir como um suporte não apenas de divulgação da pesquisa, mas como um espaço de reflexão para o antropólogo e de sistematização do material obtido em campo, o que pode representar uma otimização considerável de tempo quando for necessária a produção de artigos, de exposições e da própria tese.

O blog também serve como uma espécie de relatório de atividades à minha orientadora Professora Doutora Cornelia Eckert, uma vez que a mesma se encontra no desempenho de suas funções como docente no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e eu estou a realizar meu trabalho de campo na cidade de Belém (PA).

Este blog, enquanto mais um espaço de enunciação do pesquisador, não será escrito de maneira exclusivamente acadêmica, pois também apresenta a função de informar meus familiares e amigos que não têm a mínima idéia do que eu faço da vida quando não estou por aí causando ou sendo um rockstar rs.

Um abraço!

Pedro Paulo de Miranda Araújo Soares

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